sexta-feira, 21 de maio de 2010

Saída do Armário - PARTE III

PARTE III

Continuando...

Aos 17 anos quando comecei um namoro sério e precipitado com um garoto, não era ainda o momento certo, nem a pessoa certa. Eu me achava adulta e ainda era uma criança que nem sabia direito o que queria da vida. Mesmo assim, namorei por mais de 3 anos, um namoro que começou bom como todo namoro e foi ficando intolerável com o tempo. Eu era infantil, possessiva, vivia fazendo cobranças. Ou seja, não estava pronta para um relacionamento sério. E para falar a verdade, nunca foi amor o que eu achava que era amor. Era apego, convivência e nada mais. De qualquer modo eu não recebia o que eu esperava receber daquela pessoa, que me fez sofrer, mas me proporcionou também bons momentos. Por isso, eu sempre digo que tudo na vida tem um lado bom e sei que não foram anos jogados fora. Foram anos de aprendizado e experiências.

Foram durante esses anos de namoro que eu me apaixonei pela primeira vez por uma mulher. Não lembro quantos anos eu tinha, lembro que eu já estava fazendo faculdade e conheci aquela garota através de amigos. Tornamos-nos grandes amigas, conversávamos e nos víamos todos os dias na faculdade e a amizade foi tomando proporções maiores ao ponto de eu não conseguir mais ficar longe daquela menina. Eu sentia ciúmes dela com as amigas, eu sentia necessidade de agradá-la e vê-la todos os dias. Precisávamos nos falar todo dia e eu fazia declarações de amor em forma de amizade, achando que aquilo era apenas um sentimento forte por uma grande amiga. Mas, no fundo eu me sentia atraída por ela, pela sua beleza, seu cheiro doce, seus cabelos longos e sua pele macia igual de criança pequena. Comecei a sonhar com freqüência que estávamos nos beijando e sempre que acordava desses sonhos eu ficava angustiada querendo que aquilo fosse real.

No ano seguinte meu namoro terminou e depois disso tive mais dois namoros que não deram certo. Fiquei amiga de outras meninas e comecei a sair como uma louca. Entrei numa vida de festas e bebidas, baladas todos os finais de semana. Quando o namoro terminou me afastei um pouco daquela amiga que me despertava aquelas sensações que eu não queria sentir.

Eu havia trocado de curso na faculdade pela segunda vez e no curso novo conheci uma garota que me chamou atenção pelo estilo irreverente de ser e se vestir. Ela tinha uma tatuagem enorme que chamava atenção, cabelos loiros, cintura fina e lábios carnudos, era muito maluca e foi à primeira pessoa que me aproximei no curso. Não sei explicar, mas sempre tive tendência a me aproximar de meninos gays e mulheres bonitas ou cheias de estilo. Enfim, fiquei amiga daquela garota e acabei descobrindo que ela ficava com meninas, subitamente quando soube disso eu resolvi dizer a ela que sabia, e ela apenas admitiu. Por um momento pensei em revelar que eu tinha interesse em beijar uma mulher. Porém, fiquei com receio e apenas disse que não tinha nada contra. A amizade continuou até um certo dia, numa festa, onde haviamos bebido muito e acabou rolando um beijo meio sem querer e depois desse vários outros...

Mas, não passou disso e continuamos apenas na amizade.

Porém, eu tinha certeza que aquele simples beijo, induzido por um pouco de bebida alcoolica tinha mudado minha vida. Comecei a querer mais, eu precisava viver mais daquilo que me despertava tanto interesse. Ficar com mulheres!

No ano seguinte, eu conheci uma nova garota na faculdade. Surgiu uma grande amizade, saíamos juntas, nos víamos diariamente, ligávamos, fazíamos coisas juntas nos finais de semana. Começamos a freqüentar a casa uma da outra e novamente eu me apaixonei.
O cheiro dela, os cabelos, o carinho que ela demonstrava por mim, tudo aquilo me trazia sentimentos estranhos. Nós duas éramos muito ligadas, não conseguíamos mais viver longe uma da outra. Trocávamos presentes, declarações de amor, carinhos, abraços, e-mails, enfim... Coisas de pessoas que se gostam.
Eu vivia pensando em ter algo com ela, sentia muita vontade de beijá-la, mas faltava coragem. Costumavamos nos abraçar antes de dormir, e dar um beijo no rosto de boa noite, numa noite dessas no escuro o beijo acabou saindo na boca e então criei coragem e beijei minha amiga, ela correspondeu...

Ficamos constragidas no primeiro momento, mas depois acabamos deixando as coisas acontecerem, o sentimento entre a gente aumentou e começamos a nos relacionar. Ficamos algum tempo juntas, mas ela acabou voltando pra vida "hetero".
Ela tinha medo da situação e da família, e eu também. Por isso resolveu pular fora daquilo. Mas, eu não conseguia mais, por que gostar de mulheres era fascinante para mim...

Após isso fiz novas amizades, conheci muitas meninas e muitas vezes eu sonhava que beijava mulheres, inclusive amigas minhas. Eu sabia que não era normal, que não era somente porque eu me apegava demais nas amizades. Era algo intrínseco em mim que eu não queria admitir para mim mesma, mesmo depois das experiências e de ter me apaixonado por mulheres. Sempre tentei esconder isso por que eu não queria aceitar nem admitir, e muito menos dizer para alguém que eu me sentia atraída por garotas.

E assim eu fui levando, em alguns momentos parecia que eu ficaria maluca de tanto pensar. Passava noites em claro, sentia dores de cabeça, tentava desviar aqueles pensamentos. Achava tudo muito errado, muito absurdo e no fundo eu não sabia quem eu era...

Sempre aproximava de pessoas que eu sabia quem eram Gays, talvez por que me identificava de alguma forma com aquelas pessoas. Sempre admirei as relações de mulher e mulher. Sentia inveja disso e ao mesmo tempo tinha um FALSO preconceito que eu inventava para disfarçar para o mundo os meus desejos escondidos.

Enfrentei aquela dita batalha psicológica que algumas de nós enfrentamos ao descobrir que estavámos caminhando por um caminho, mas no fundo queríamos caminhar por outro...

E CONTINUA...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Saída do Armário - PARTE II

Continuando...

Na quinta série do ensino fundamental troquei de colégio, sai da escola municipal e fui para um colégio particular. Foi assustador. Eu me isolava de todos, pois tinha vergonha de ser uma menina gordinha. Passava os intervalos isolada de todos com medo da aproximação das pessoas. O fato de eu ser gordinha era motivo de gozação para muitos, o que me tornava uma menina tímida e retraída.

Aos 11 anos resolvi que iria emagrecer e comecei uma dieta, no começo eu não contei para ninguém, mas quando minha família percebeu que eu estava tentando emagrecer, não somente me apoiaram como colaboraram. Fui perdendo peso aos poucos junto aos quilos perdidos eu perdia também a timidez. Era como se eu estivesse dando um cala boca nas pessoas que riam de mim. Era uma superação.

Na oitava série do ensino fundamental, 1997, aos 13 anos e já magra, comecei a fazer amizade com algumas meninas. Não tenho dúvidas de que elas se aproximaram de mim por pena. Afinal, eu era antes um “bichinho da goiaba” gordinho que andava igual menino e não tinha amigos. Foram minhas primeiras colegas. Eu realmente tinha um jeito “meio menino” de ser, achava minhas amigas lindas, mas também achava os meninos bonitos. Não sabia exatamente qual sexo me atraia, porém como eu queria ser aceita pelo grupo fiquei com um menino naquele ano, pressionada pelas colegas que fizeram os "rolos".

Meu grande ano foi 1998. Quando fiz minha primeira amizade verdadeira, uma amizade que continua existindo até os dias de hoje. Foi à primeira pessoa com a qual eu dividi um pouco do que eu era. A única amiga que eu confiava para contar minhas angustias e que também ajudou muito com a minha timidez.

Nesse ano eu fiz todas as coisas erradas possíveis e fui reprovada de ano no colégio...rs
Acredito que extrapolei quando me libertei das minhas próprias “grades”. Queria recuperar o tempo perdido dos anos anteriores então cai na bagunça.

Acho que a adolescência é uma fase marcante na vida da gente. São tantas experiências, tantas frustrações, tantos desamores e tantas coisas para aprender, sem contar a pressão para que você seja maduro e cresça, sendo que muitas vezes você ainda não está pronta para isso.
Os pais ensinam, a escola ensina, mas a vida ensina as maiores lições que a gente precisa aprende.

Aos 15 anos tive meu primeiro namoradinho, um carinha mais velho que tinha planos para o futuro e eu simplesmente uma adolescente em busca de aventuras. Ele foi à primeira pessoa com a qual eu quase me relacionei sexualmente. Como era mais velho, queria dar um passo a mais no namoro. Porém eu não me sentia pronta para aquilo e não fui adiante. (UFA GRAÇAAAS A DEUUS EU NAO FIZ ISSO)

Nessa fase da minha vida, eu já não pensava mais se gostava de meninos ou meninas, ficava com meninos e pensava “é isso” e pronto. A batalha comigo mesma ainda não havia começado. Porém, sempre que escutava o Renato Russo cantando “eu gosto de meninos e meninas” eu pensava, eu também gosto de meninas...

rs

No segundo ano do segundo grau, aos 16 anos eu já havia ficado com alguns garotos, fazia amizades facilmente, era muito espontânea, meio maluca até. Fiz milhares de coisas que fazemos quando somos adolescentes e nossos pais nem sonham. Mas, não me arrependo de nenhuma delas. Sei que tudo aconteceu por algum motivo. Tudo é experiência e talvez se nada tivesse sido assim eu não teria histórias para contar e não teria aprendido nada com a vida.

Bom, eu andava com meninas que ficavam com meninos, então eu ficava com meninos também. Porém, sempre fui uma admiradora das relações entre meninas. Lembro-me que no colégio onde estudei havia um casal de meninas e todas as outras viviam falando das duas maldosamente, e eu sempre achava um máximo elas viverem aquilo sem medo de nada e de ninguém não se preocupando com o preconceito das pessoas...

CONTINUA...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Saída do Armário - PARTE I

Bom, parece meio louco tornar pública a minha vida assim dessa forma, mas sei lá por que tenho vontade de dividir com vcs como foi que aconteceu comigo. Como eu me descobri, como eu sai do armário e entrei de vez nessa vida que eu sempre quis.
Acho que pode ajudar algumas pessoas que tem medo ou que estão em dúvidas... ou não...
Pode ser talvez apenas uma história louca, de uma louca mulher que gosta de mulheres e é feliz assim...

hoje começo a dividir com vcs minha história, o começo é chatinho, vai falar um pouco da minha infância e adolescência, mas eu sei que é lá que tudo começou...
espero que gostem

um abraço a todas!

PARTE I

Este relato surgiu da vontade de compartilhar minha história com pessoas que talvez tenham vivido situações parecidas, ou que estejam vivendo. De certa forma não deixa de ser uma biografia, porém com intenção de dividir os sentimentos, as frustrações, as dificuldades e os bons momentos vividos durante a minha experiência, uma vez que muitas pessoas passam por esse tipo de situação, enfrentam as mesmas dificuldades que enfrentei e muitas vezes não podem compartilhar.
O relato começa com um breve resumo da minha infância e adolescência, uma vez que é a partir desses momentos que surgem as primeiras dúvidas quanto a minha orientação sexual.
Não cito nomes das pessoas pra preservar e respeitar é claro!!!


Tudo começou em outubro de 1983, numa noite de domingo, naquele dia nascia uma pequena menina, com um pouco mais de 3 Kg , olhos verdes e cabelos claros. Nesse caso, quando resolvi vir ao mundo, meu pai estava num jogo de futebol e veio para casa às pressas levar aa mãe ao hospital, quase nasci dentor de um fusca que meu pati tinha naquela época.
Meus irmãos, mais velhos ficaram muito contentes pela irmãzinha que acabara de nascer. Eu era o xodó da família (até revelar que era Lésbica, depois disso passei a ser ovelha negra...rs vocês vão entender mais a frente)

O meu nascimento foi a última fase do “felizes para sempre” dos meus pais que se separam quando eu tinha 3 anos de idade. Infelizmente meu pai tinha problemas sérios com dependência química, e tem até hoje.
Após a separação dos meus pais, minha mãe precisou ser forte, batalhando sozinha pelo futuro dos filhos, lutando para nos dar uma vida digna, e além de enfrentar essa batalha, ela ainda travava uma verdadeira guerra consigo mesma, devido ao amor que cultivava pelo meu pai, mesmo sabendo que ele não conseguia se afastar da dependência química e viver uma vida normal ao lado da sua família. Família que ele abandonou.

Aos 04 anos de idade comecei a freqüentar uma escola Municipal que ficava próxima a minha casa. Contam-me que eu era uma criança muito sapeca, que fugia da escola, me escondia embaixo das mesas e fazia coisas bizarras. Aos cinco perdi minha avó que era quem cuidava de mim enquanto minha mãe trabalhava pra sustentar a gente. E aos 07 anos de idade, meu irmão mais velho saiu de casa.

Minha avó não me deixava brincar com meninos, por que temia que brincando com meninos eu me tornaria "um menino"... Ela percebeu de fato que gostava de brincadeiras de meninos desde pequena.

Não lembro de ter sentido falta do meu pai, talvez por que fosse muito pequena quando eles se separaram. Nunca fez diferença na minha vida vê-lo ou não. Sempre foi como um estranho, alguém que eu não conseguia aceitar devido às tristezas que trouxe para a família.

Quando criança eu era uma menina moleca. Gostava de aventuras, subir em árvores, andar nos muros e jogar futebol. Nunca gostei muito dessas brincadeiras de boneca e casinha, como toda menina que se preze, embora eu também tenha brincando. Lembro-me que quando brincava de casinha o casal sempre se separava ou brigava, ou seja, nunca viviam felizes para sempre. Geralmente brincava no meio dos meninos que eram meus primos e quase sempre era futebol.

Desde os tempos de infância, muita gente comentava que eu seria “mulher-macho” expressão que usavam para denominar a palavra “lésbica”. Tios e professores falavam isso para minha mãe, com razão, pois eu realmente agia como um menino jogando futebol e brigando com meus primos.

PS:. MAS HOJE EU SOU UMA SAPINHA BEM FEMININA PODEM APOSTAR!!!

Continua... (pq se não vai ficar muito grande pra ler)...rs