terça-feira, 10 de maio de 2011

As amizades que perdi...

Eu tinha muitos amigos heteros enquanto estava no armário. Nunca me abri com nenhuma das minhas amigas, exatamente por que tinha medo de perder essas amizades.
Demorou um tempo para que eu tivesse coragem de contar e fiz isso primeiramente por e-mail. Sempre fui melhor com as palavras escrevendo...

Passei uma tarde toda elaborando um texto enormeee contando aos meus melhores amigos sobre a minha sexualidade. Envie para todas de uma vez só num impulso de coragem. As respostas? Bom elas foram positivas, todas disseram que nada ia mudar, que continuariam minhas amigas, etc e tal. Mas, não foi assim que aconteceu na prática.

Todas aquelas amigas as quais eu tinha consideração foram aos poucos se afastando. Nunca mais recebi convites para fazermos as coisas de antes. Nunca mais recebi telefonemas, e-mails, scraps. NADA! Simplesmente acabou. E pior, essas mesmas amigas as quais eu tinha tanta consideração e respeito, passaram a me procurar somente quando precisavam de favores. Uma roupa emprestada, uma ajudinha pra isso ou pra aquilo.

Entretanto, novos amigos surgiram. Novos e importantes amigos. Na verdade eu aprendi a dar valor pra pessoas mais simples, aquelas pessoas que tinham consideração por mim e que eu não dava muita bola. Para mim isso também serviu de lição.

Em casa com a minha mãe, foram meses convivendo no sofrimento, com brigas constantes, ouvindo e falando coisas horriveis... até que eu criei coragem e sai de casa (ou melhor, fui expulsa)...rs, mas confesso que foi a melhor coisa que aconteceu.

Os amigos, muitos dos vários colegas dos tempos de colégio não sabem. Poucos sabem. Dos que sabem, muitos se afastaram. Outros se aproximaram e foram mais compreensivos do que eu imaginava.

A vida é assim, um perde e ganha.

No meu caso, valeu a pena enfrentar meus medos, minhas angustias, minha família...
No meu caso valeu a pena sair do armário e viver uma vida que eu talvez não tinha imaginado, mas desejava mesmo que involuntáriamente.

Eu aprendi e continuo sempre aprendendo a me aceitar.
Eu aprendi que não sou um extraterrestre como eu pensava ser no começo.
Eu aprendi que como eu, várias pessoas passam por essa turbulência de aceitação.

FIM

terça-feira, 3 de maio de 2011

SAINDO DO ARMÁRIO...

Depois da grande decepção... eu segui em frente. Mesmo sofrendo com as minhas dúvidas e sofrendo por essas paixões malucas. Pensei que talvez as garotas tivessem medo de se relacionar comigo, pelo fato de eu estar me descobrindo. Elas queriam garotas seguras e não alguém como eu, o que é natural. Isso foi mudando com o tempo...

Ninguém imagina como é essa batalha. Uma batalha psicológica que chega a ser inenarrável. Nós não escolhemos gostar de outra mulher, isso acontece de forma natural, assim como é natural sentir medo desse sentimento.
Eu mesma, tantas vezes tentei fugir dos meus pensamentos e das minhas vontades. É confuso no começo. Em alguns momentos me sentia um extraterrestre, uma louca.

Mas, um dia eu tive coragem de enfrentar meus medos. Um dia eu consegui sair da minha casca. E foi é claro por causa de uma menina. Era bonita demais e foi ela que me fez querer abrir o jogo em casa. Eu já não suportava mais a sensação de mentir. Até por que odeio mentiras e mentir para minha família era como levar uma facada por dia.

Comecei contando para o meu irmão... por e-mail, pois não tinha coragem de falar pessoalmente. Depois para minha irmã também por e-mail.
Ambos ficaram em estado de choque, conversaram e decidiram que eu era irmã deles e que isso não mudaria, pois eles me amavam do jeito que eu era. Depois, eles se encarregaram de abrir o jogo para minha mãe.

Rios de lágrima é pouco. As conversas alternavam entre lágrimas, gritos, desabafos...
Os dias em casa eram os piores possíveis. Ao mesmo tempo que eu ficava perdida com meus sentimentos, estava ficando com a garota e vivendo a maior batalha da minha vida em casa. Em alguns dias não havia conversa em casa, todo mundo se ignorando.

Meus irmãos alternavam muito no sentido de me dar apoio, ficavam muito confusos e eu entendo eles. De certa forma eu sabia que não era simples para eles entenderem e aceitar isso. Quanto mais para minha mãe com seus conceitos religiosos.
Na verdade, o maior medo deles era "o que os outros vão falar". E esse no fundo também era o meu medo embora eu não admitisse isso.

Porém, o tempo cura tudo. E com o tempo as coisas foram mudando. Minha mãe fez terapia, contou para o resto da família e hoje todo mundo sabe e me respeita do jeito que eu sou. Procuro me manter discreta no ambiente de trabalho e no meu dia-a-dia e nada mais. Faço isso para não criar conflito apenas. Querendo não preconceitos existem, por isso é melhor se preservar de algumas coisas...

Essa batalha de sair da casca é para poucos e é preciso ter coragem sim! Talvez, devido a tantos paradgimas, tantos conceitos religiosos, tantas idéias que são impostas pela sociedade, a maioria das pessoas que sentem desejo por outra do mesmo sexo acabam vivendo para sempre na casca. Muitas em casamentos frustrados, tantas outras casadas de fachada e aprontando fora do casamento. O que eu acho muito pior do que assumir a homossexualidade.

Mas, hoje eu sei que valeu a pena enfrentar tudo aquilo. Valeu a pena pela minha felicidade. Valeu a pena por que hoje eu me sinto bem podendo viver meus desejos. Por que eu mostrei para muita gente que não era nenhum bicho de sete cabeças eu ser homossexual, que não era nada de tão absurdo assim, que eu não deixei de ser eu mesma por ser assim, que eu não deixei de ter carater por que eu gosto de mulher...

Alguns dos meus familiares inclusive, foram surpreendentes na aceitação. Conheceram minha companheira numa boa e a trataram bem. Claro que sempre tem aquele que fala mal pelas costas, que te olha meio de lado, mas eu ignoro e pronto. Dane-se. Ninguém paga minhas contas (claro hoje sou independente e esperei ser para abrir o jogo em casa, na adolência seria muito complicado fazer isso).

Vou continuar escrevendo sobre isso, por que na verdade sei que a descoberta é lenta. A aceitação consigo mesma é mais ainda. Demorou anos para mim...

No próximo texto vou falar sobre os amigos que perdi e sobre o que mudou na minha vida... e depois sobre MULHERES... como são belas as mulheres...

Abraços a todas as minhas leitoras